Economia e diversidade: startups ampliam oportunidades para a população LGBTQIAPN+ em Pernambuco
Por Leandro Lopes
Foto: Divulgação redes sociais / Vale PCD
Ser LGBTQIAPN+ muitas vezes resulta em bloqueios no acesso a serviços básicos, especialmente para aqueles em condições de vulnerabilidade. A dificuldade é ainda maior quando se trata de conquistar um emprego digno. Apesar dos avanços em direitos e da ampliação de políticas afirmativas nas empresas, esses esforços frequentemente se limitam ao mês de junho, quando se celebra a diversidade.
Nesse contexto, startups têm se mostrado uma alternativa promissora para essa parcela da população. As empresas emergentes, geralmente voltadas para a tecnologia, têm investido em vagas afirmativas. No entanto, o setor ainda é embrionário para a comunidade LGBTQIAPN+, que enfrenta desafios para superar a falta de notoriedade e as barreiras em um ramo em ascensão.
Em Pernambuco, iniciativas como a Ponte de Inclusão à Diversidade PE (PID), a Vale PCD e a Ganda Lab são exemplos de startups que investem no desenvolvimento local e na promoção da empregabilidade para membros da comunidade.
Startups: Inovação em Todos os Sentidos
Márcio Lopes, um homem gay, lidera a Ponte de Inclusão e Diversidade (PID), uma startup que, desde 2021, busca melhores condições trabalhistas para gays, lésbicas, bissexuais, trans e outras minorias que enfrentam dificuldades em conseguir emprego devido à sua identidade. “Nós procuramos educar as empresas por uma trilha de aprendizagem, preparando o ambiente empresarial para abrir suas portas para a comunidade, e, ao mesmo tempo, instruir esses profissionais para o mercado de trabalho,” explica Lopes.
A Vale PCD, uma startup emergente, oferece serviços de saúde mental, mapeamento de locais, descrição de acessibilidade, palestras e consultorias. Sob a coordenação de Priscila Siqueira, uma mulher bissexual com nanismo, a empresa atua para o desenvolvimento da comunidade LGBTQIAPN+ quanto para pessoas com deficiência que enfrentam marginalização semelhante.
Já a Ganda Lab, comandada por Bruna Monteiro, é um hub de comunicação com foco em impacto e transformação social, formado por mulheres e pessoas LGBTQIAPN+. Essas três empresas contribuem diariamente para o desenvolvimento de ideias e projetos voltados diretamente para a comunidade, além de fortalecerem a economia de Pernambuco e do Brasil. A falta de visibilidade dificulta um desenvolvimento mais efetivo desses empreendimentos.
Desemprego entre LGBTQIA+
De acordo com números da Aliança Nacional LGBTI, citados pelo TCU em seu acórdão durante a pandemia de Covid-19, a taxa de desemprego da população LGBTQIAPN+ chegou a 40%, aumentando para 70% entre transexuais e travestis, em contraste com 14% da população em geral. Mesmo anos após o início da pandemia, as sequelas ainda geram obstáculos na busca por oportunidades de trabalho. A homofobia, transfobia e bifobia no ambiente de trabalho limitam diretamente as chances de empregabilidade, mesmo para profissionais altamente qualificados.
Guilherme Nobre, arquiteto formado pela Universidade Federal de Pernambuco, enfrenta essas barreiras. Aos 32 anos, ele relata não se sentir acolhido em ambientes onde a diversidade não é promovida. "O convívio e a socialização são sempre motivo de ansiedade nesses ambientes de trabalho, porque muitas vezes eu não sei se posso sofrer algum tipo de ataque. As pessoas também não ficam à vontade para se relacionar comigo por receio de falar ou fazer algo que me ofenda," destaca.
Diego Elliot, um homem trans de 18 anos, enfrenta desafios semelhantes. Trabalhando em funções de atendimento ao público, ele relata a falta de abertura das empresas para oportunidades. "O mercado de trabalho para pessoas trans é bastante dificultoso. Começa antes mesmo da entrevista, mas é lá que percebo o preconceito estrutural. Não importa minhas qualificações e experiências, acabam me lendo e julgando apenas como pessoa trans, e nem todas as empresas estão ok com isso nos dias atuais," desabafa Diego.
Startups LGBTQIA+ em Benefício da Economia e da Empregabilidade
Se em Pernambuco existissem mais empresas como as destacadas na reportagem, profissionais como Guilherme Nobre e Diego Elliot teriam oportunidades de conseguir uma vaga no mercado de trabalho mais rapidamente. "Nós vemos que, quando empresas investem na diversidade, seus lucros e rentabilidade aumentam. Desse modo, conseguimos construir um estado de Pernambuco que possa lucrar com a diversidade e com a equidade, e não com a desigualdade, porque quando apenas algumas poucas pessoas ganham, na verdade, toda a sociedade perde", afirma Priscila Siqueira, da Vale PCD.
Foto: Arquivo pessoal / Priscila Siqueira
Bruna Monteiro, da Ganda Lab, ressalta a necessidade de ambientes mais diversos e inclusivos: “A gente precisa entender que unidade é diferente de diversidade; não é porque eu tenho uma pessoa LGBTQIAPN+ que minha empresa é totalmente inclusiva e diversa. Unidade é diferente de equidade. Precisamos de ambientes mais diversos e inclusivos”. Ela também destaca que não basta para as empresas apenas erguerem a bandeira da diversidade; é essencial que implementem políticas eficazes para contratar profissionais como Guilherme e Diego.
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