Órfãos do Mangue, da Caburé Coletivo, conquista o primeiro lugar no Primeiro concurso de Cinema Negro do Gepar
A premiação e exibição dos filmes aconteceu em novembro durante a Semana da Consciência Negra, promovida na Universidade Federal de Pernambuco
O documentário “Órfãos do Mangue - o projeto de destruição ambiental e o impacto nas comunidades pesqueiras” recebeu o primeiro lugar do concurso promovido pelo Festival de Cinema Negro Geparwood, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (GEPAR). O evento, que contou ainda com exibição dos curtas-metragens premiados, integrou a programação da Semana da Consciência Negra, realizada anualmente pela organização no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O documentário produzido pela Caburé Coletivo de Comunicação, em 2023, foi resultado do 15º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog. Partindo do tema "Novas e velhas lutas: qual o papel do jornalismo na reconstrução do Brasil?", Guilherme dos Santos, Laysa Vitória e Letícia Barbosa retratam na tela como pescadoras e pescadores da Ilha de Deus, na zona sul do Recife, vem sendo impactados por ameaças diversas resultantes da negligência governamental e do racismo ambiental.
“Órfãos do Mangue” é dividido em três pontos de impasse no que se refere à manutenção da atividade da pesca artesanal: a poluição, o atraso na execução do plano de contingência diante do derramamento de óleo na costa nordestina e descaso com o meio ambiente na gestão Bolsonaro. Em contrapartida, a resistência da comunidade pesqueira destaca-se por meio da organização coletiva, bem como pela tentativa de manter suas práticas vivas.
Geparwood
O Festival de Cinema Negro Geparwood é um projeto de extensão promovido pelo GEPAR com o objetivo de celebrar Cinema Negro e homenagear personalidades envolvidas no pensar e no fazer da linguagem audiovisual, bem como produtores culturais negros e negras da cena pernambucana.
O festival dedica-se a realizar palestras, cine debates e filmes, entre outras atividades, em instituições educacionais públicas. Este ano, a iniciativa promoveu o primeiro concurso audiovisual, selecionando produções que evidenciem a diversidade e a inclusão de povos e pessoas historicamente discriminadas.
Além de “Órfãos do Mangue”, que conquistou o primeiro lugar desta edição, o videoclipe “Tribunal dos Bichos”, do cantor Fykiá Pankararu, dirigido por Thiago de Mercê e o próprio artista, e o documentário “A pisada é delas”, de Patrícia Rocha, também foram premiados. Já a ficção “Dublê de Ogun”, produzida por estudantes da Escola Técnica Estadual (ETE) Dom Bosco, recebeu menção honrosa.
Confira mais sobre as produções
"Tribunal Dos Bichos"
Tribunal dos Bichos, de Fykyá Pankararu e Thiago das Mercês, narra a história do fim dos tempos a partir da perspectiva dos Bichos, seres que lutam para sobreviver em meio ao caos e a desordem climática provocada pelos seres humanos em nosso planeta. Filmado no território indígena Pankararu, a obra aborda o cotidiano na aldeia Brejo dos Padres, e a relação com os Encantados, a natureza e a tradição Pankararu.
Confira a produção : https://www.youtube.com/watch?v=EwjqTwr2zJE
"A Pisada é Delas"
O documentário de Patrícia Rocha reúne histórias de vida de três mulheres do único maracatu rural exclusivamente feminino, o Coração Nazareno, folguedo popular da cidade de Nazaré da Mata, Pernambuco. Uma reflexão sobre a luta e a resistência feminina pela igualdade de gênero no campo cultural e valorização da cultura popular pernambucana.
Confira a produção: https://drive.google.com/file/d/13A0nwX3yMSKqp9i5HdX_E4wgT6J7vXtW/view
"Dublê de Ogum"
Esta é uma produção pedagógica com objetivos educativos baseada na obra de mesmo nome da escritora Cidinha da Silva. Joana é uma criança feliz, estudante de uma escola pública e tem que lidar com vários desafios, em casa e dentro da escola. A história de Joana se junta às histórias de jovens por todo o país, jovens com diferentes trajetórias que estão atravessadas por dimensões de negritude.
Confira a produção: https://www.youtube.com/watch?v=H6Tg0_hr9pg
Menção Honrosa
O filme “Dublê de Ogum” nasceu da colaboração entre o Núcleo de Estudos em Negritude e Juventude (MOCA) e a agência publicitária da ETE Dom Bosco, localizada no bairro de Casa Amarela, na zona norte do Recife. Alunos e alunas dos cursos de marketing e publicidade se juntaram para compor todas as etapas da produção.
Adriely Elanny, de 16 anos, está no 1º ano do Ensino Médio e foi a protagonista da ficção. Ela contou à Caburé sobre a experiência. “Foi muito maravilhoso. Eu ri muito e me diverti bastante. Nunca pensei em fazer algo como audiovisual. Então, foi uma experiência única para mim. Eu pretendo continuar fazendo”, revela.
O curta foi inspirado no conto homônimo da escritora Cidinha da Silva e reforça a valorização da cultura afro-brasileira. Sobre isso, a estudante pontua: “eu já tive um pouco de contato com as religiões de matriz africana com a minha mãe, com a minha família, porque muita gente não é da minha religião. Eu sou uma pessoa católica, mas eu estou aberta a visão de outras religiões e para mim foi super tranquilo”.
Pela valorização da história e cultura negra
O Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (GEPAR) é um grupo construído através da participação de docentes e estudantes da UFPE que tem como objetivo colaborar para disseminar as lições aprendidas no processo da observação da implementação da Lei Federal 10.639/03 nas escolas públicas e privadas de Pernambuco.
Entre os objetivos do grupo estão acompanhar os estudantes de cotas étnico-raciais para facilitar o acesso e permanência, conduzir estudos, pesquisas e intervenções, realizar ações educativas de combate ao racismo e às discriminações, promover o fortalecimento das identidades e dos direito ; e atuar na formação dos estudantes nas abordagens metodológicas da autobiografia e das africanidades e afrodescendências.